Maturidade irreversível

Ai que vontade de falar com gente estranha!
Desejo de contar toda a minha vida a quem eu não conheço.
Ai que vontade estranha!
Ai que vontade de ser pequena!
Uma vontade tão humana.
Tenho uma vontade grande de chupar manga e melar a roupa.
Por que não me deixam sujar a camisa branca de corante, de macarrão?
Por que que não param de se importar?
Ai que vontade de assanhar o cabelo!
Uma vontade de brincar com um amigo imaginário.
Vontade de me acharem graciosa.
Uma vontade de parar de pensar.
Uma vontade de me dá o direito de não agradar.
Quero sair gritando pela rua.
E o vento me guiar,meu amigo me levar.
E o vento levantar a minha saia com inocência.

Um pouco de silêncio e volto a minha principal vontade...

Me neguem todas essas vontades!
Pois é irreversível a minha maturidade.
Me sentiria muito mal, se me vissem suja por aí de manga e de macarrão.
Muito mal se me internassem num hospício por gritar no meio da rua e falar sozinha.
Me prenderiam por atentado ao pudor se levantasse a minha saia
Eu brigaria com o vento e deixaríamos de ser amigos.
Pois não é nada inocente levantar uma saia de uma mulher.
Quero continuar sonhando e distinguo minha vontade dessa realidade.
Por isso vivo madura e irreversível.