Encontrei paz

Eu vou morrer de alguma forma
Assinei um contrato com uma data imprevista
E vou morrer de algum jeito, eu sei.
Mas esses não são versos de carência
Esses versos são ciência de que a morte é imprevista

Quando eu morrer ainda existirão erros de português
Eu vou partir e vocês ainda estarão lutando por aqui
E esses não são versos mórbidos
Vejam esses versinhos tórridos de alguém que ama a razão

Por enquanto eu vou viver essa eternidade de nunca saber
Porque o ruim da vida é essa incoerência de mortes truculentas sem o curso natural
E eu vou viver mais um pouco que o assassino e o bandido.

Para mim há dois caminhos um é a morte e outro a morte da vida
Porque de certa forma sempre se morre para o bem e para o mal.
Isso se escolhe,nasce, cresce, reproduz e morre.
Essa ainda não é a minha morte.

Quando eu morrer ainda existirão erros gramaticais.
Haverá ainda fome voraz
A burrice ainda será veloz e continuarão a eleger leões.
Mas eu vou estar em paz.

E decido começar a morrer
Decido não gastar mais tempo falando
Decido seguir o curso ou ir adiantando.
Decido também andar para atrás de quando em vez.
Eu vou morrer de vez em quando.

Pois para mim medo e tristeza são coisas banais
Agonia e solidão viscerais
O homem de amar é incapaz
Porque assim se escolhe, nasce, cresce, reproduz e morre.
E vou começar a morrer desde agora
Descansar minha mente no meio de um centro urbano.

Porque o ruim da morte é o engano e
o ruim da vida é esse soberano, que se chama ódio
No maligno o mundo jaz
O maligno e o mundo.
Mas eu já morri para os dois.
Para esses já morri demais.

E quando eu morrer ainda haverá um livro de português
Os Reis ainda dirão o que fazer a vocês
Eu? Rindo e bem longe eu serei bem mais.
Porque eu morri quando aprendi a ler
e quando vivi o que cativei.
Morri para o meio e para o morno
Morri toda primavera.
Morreu cada vez mais velha.
Num soluço e num sorriso que a vida traz
Que eu descanse em paz!