Antigo e amargo

E eu não vou mais amar assim desse jeito: com esse toque, essa pele, esse som.
E agora eu vou querer sem fazer barulho. Do meu desejo, vou diminuir o tom.
Não vou mais te implorar para vir, para ficar, para cair ou parar.
Só terei prazer em me ver no seu espelho e amanhecer chovendo, brisando, solando, nascendo. Devagarzinho eu irei acontecendo.


Estava eu lá. Era inocente e casta, vidente, pura, emotiva e nada era excesso ou fim para mim. Chegou a primeira dor e fechei os olhos, dormi. Quando acordei havia passado. Era um só passo infalso. Fugi.


E eu não vou mais amar assim desse jeito: querendo, sofrendo, culpando, gastando todo o meu dom.
E te quererei de dia. A minha noite vai servir para o meu sono. E os meus sonhos enterrarei no quintal ou jogarei pela janela do quarto.
Não vou mais te implorar para partir, para ir, para levantar ou começar.
Só terei prazer em me ver em você e te ter anoitecendo a chover, a ventar, a se pôr.
Devagarzinho eu irei acontecendo.


Estava eu lá. Era outra vez sem fim, inocente e pura, casta, emotiva e nada era vidente ou excesso para mim. Chegou a segunda dor e os meus olhos encantados e esquecidos do passado da visão terrível e anterior, choraram. Quando acordei o meu travesseiro estava apenas molhado. Pus no sol para secar o meu problema. Precisei de uma manhã apenas. Esqueci.


E eu não vou mais amar assim desse jeito: com a minha inteligência, com o meu espírito e o meu sentimento.
Porque eu te quis de dia e gastei todo o meu tempo de trabalho e diversão. Quando era de noitinha meu amor eu escondia, enquanto para mim eu fingia que o nosso pensamento por você era findo.
Não vou mais te implorar para ir ou vir, partir ou ficar, cair ou subir, começar ou parar.
Só terei prazer de no meu espelho não enxergar mais você e eu amanhecer e anoitecer chovendo, brisando, ventando, solando, me pondo, nascendo. Devagarzinho e de uma só vez eu irei acontecendo.



Pois estava eu lá. Era vidente e casta, excesso, emotiva, pura, fim e nada era para mim. Chegou a terceira dor. Quando acordei havia passado. Era só um passo infalso. Fugi.
Mas permaneceu durante o dia essa terceira dor. Então debaixo do sol eu decidi dormir. Quando acordei o meu travesseiro estava apenas molhado. Pus no sol para secar o meu problema. Precisei de uma tarde inteira. Esqueci.
Mas na hora derradeira, antes de apagar as luzes, olhei para o espelho e me vi: os olhos inchados, a maquiagem borrada, alguns anos roubados, a boca entreaberta. Morri.
Agora eu não vou mais amar assim do meu jeito: antigo e amargo.

9 comentários:

Miriã Soares disse...

Foi uma declaração de amor cheia de intensidade e sofrimewnto.

Lara Sousa disse...

Aii que texto triste, no começo nem tanto mas o ultim paragráfo, é bem down. Mas essas coisas acontecem sempre por um motivo, isso concerteza te fez crescer como pessoa, e te fez amadurecer para um novo relacinamento, como vocês mesma falou, não mais antigo e amargo. Talvez não se perceba isso agora, mas no futuro vocÊ vai ver como esse esperiência te ajudou a ser uma nova pessoa.

beijO

iti disse...

historia de amor, sempre é sofrida...

aceita uma parceria de link ?

http://500x100.blogspot.com/

Heitor Nogueira disse...

Só podia ser baiana!As baianas têm dessas coisas,sabem fazer chorar, cantar...Elas têm um lirismo forte, preciso!Vou acompanhar esse blog, adicionar aos meus "seletos"[pode ir ver lá no blog]E comentar com freqüência!
Esse texto foi muito bem arquitetado!Parabéns!Se continuar assim, vai entrar para um post especial do meu blog sobre "literatura contemporânea" que engloba os novos escritores e blogueiros!Aguarde!
forte abraço!

Guilherme Bandeira disse...

Primeiramente obrigao pela visita!

Não sei se estou ficando velho, mas não tenho muita sorte cm esse tal de amor não. Seu texto é muito bom.

www.olhaquemaneiro.com.br

Guilherme Bandeira disse...

Rsrsrs...eu percebi, mas ta tranquilo...acontece. Aproveita e conhece meu blog então...rs.

beijo

www.olhaquemaneiro.com.br

iti disse...

seu link ja foi add, add o meu e me avise..

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W.H.P disse...

Gostei do estilo,muito bem

Pelirroja disse...

Ah, querida baiana! É um prostesto de amor. ;-)

Você escreve bem, conseguiu passar toda uma intensidade e melancolia, assim como Clarice Lispector!

E no final das contas, aprendemos com todas os atrasos, erros, quedas e ilusões que acontecem na vida...

Gostei bastante do seu cantinho, Monique! Parabéns!

Sucesso em 2009!
Beijos!

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